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Set 2021
Como aplicar o método clássico no ensino da língua - parte 1
O Poder da Linguagem | 10 min.
03/09/2021
Um chamado aos pais
Muitos pais têm nos procurado para expressar o espanto com as aulas escolares de seus filhos agora que tiveram a chance de assisti-las nesse contexto de pandemia e ensino à distância.
E é mesmo de se espantar, tanto pelo processo, quanto pelo resultado. Depois de uma década e meia frequentando diariamente a escola, em jornadas longas e estafantes, os alunos, de escolas públicas e particulares, não são capazes de ler, com boa compreensão, textos de média exigência em língua portuguesa.
A situação é calamitosa, mas não se pode dizer que se trata de uma tragédia.
A marca fundamental das tragédias, pelo menos como os gregos as entendiam, é a inevitabilidade dos fatos: aquilo que o Destino determinava, inexoravelmente acontecia, independente do que se fizesse no sentido contrário. Nem mesmo os deuses do Olimpo tinham o poder de desfiar o tecido das Moiras.
Não é o nosso caso. A situação é crítica, terrível, desesperadora, mas não é insolucionável.
Há solução, e ela, de um modo ou de outro, há de começar, não no Congresso Nacional, mas no seio das famílias, dentro de nossas casas.
Acreditamos que os pais podem — e em alguma medida devem — assumir um papel fundamental na educação dos filhos, não necessariamente com o ensino doméstico, em tempo integral, que é opção evidentemente vedada à maioria das pessoas, mas, ao menos, com atividades que sirvam de complemento à escola, ali, em poucos minutos depois do jantar, nos finais de semana, nos dias de folga.
Qualquer que seja a disponibilidade e por mais complexa que seja a agenda, é preciso que as famílias tomem parte nesse processo; que os pais e mães, na medida de suas condições e capacidades, façam as vezes também de professores.
E, por incrível que pareça, não precisa de muito para isso. É necessário, antes de mais nada, compreender que o problema existe, que é real, e que não se resolverá num passe de mágica, na base de um otimismo cego e alienante.
Vencida essa etapa preliminar, os pais já convencidos de que precisarão, em maior ou menor medida, colocar a mão na massa, naturalmente surgirão as seguintes perguntas: mas, como? De que modo, em que sequência e com qual frequência se deve ensinar? E como proceder nas correções, como tirar dúvidas, como medir o desenvolvimento da criança? Trocando em miúdos, os pais engajados se darão conta de que carecem de um método.
E é justamente isso, um método para pais que estão decididos a tomar parte na educação dos seus filhos, mais especificamente no campo da linguagem, o que nós apresentamos na aula Caminhos Para Seu Filho Dominar a Arte de Ler.
Na ocasião, mostramos como são apenas quatro os passos que os pais precisam percorrer para ensinar aos pequenos os mais diferentes aspectos da língua portuguesa, da morfologia à semântica, conforme o método mais tradicional e eficaz do Ocidente.
Porém, antes de avançarmos os passos — aos passos —, vale um breve resumo do que seja o método clássico.
*****
Chamamos de método clássico a pedagogia de transmissão da linguagem e da cultura geral que surgiu na Antiguidade, ganhou contornos mais nítidos na Idade Média, como base do conjunto das chamadas Artes Liberais, sobreviveu, malgrado as perdas e mutações, em parte da Idade Moderna, e que até poucas décadas se podia achar, em ecos e vestígios, nas boas escolas da Europa, EUA e mesmo aqui do Brasil.
Em linhas muito estreitas, esse método manda que o aluno aprenda a sua língua pelo contato aprofundado com o que de melhor nela já foi produzido. Ou seja, deve aprender lendo os grandes escritores, as maiores realizações do seu povo em matéria de literatura, na poesia e na prosa.
Mas isso não se consegue dando, por exemplo, um tomo do La Fontaine nas mãos da criança, a abandonando à vã esperança de que por manobra miraculosa lhe serão infundidos todos os conhecimentos linguísticos e todas as referências culturais indispensáveis à plena compreensão da obra.
É inegociável, para a efetividade desse método, a presença de um adulto.
Veja, o que se quer dar à criança, num primeiro momento, é um modelo de leitura e compreensão dos melhores textos. E é só um adulto capaz de ler adequadamente o La Fontaine, o Camões, ou qualquer outro dos clássicos, que pode transmitir esse modelo.
Mas, além da linguagem, também se deseja, por esse método, abrir para a criança um horizonte mais vasto de referências culturais. E é só um adulto com sua própria bagagem de conhecimentos e vivências, práticas e intelectuais, que pode realizar bem essa abertura.
Há os raros casos de crianças que, completamente desguarnecidas de adultos que se prestem a esses trabalhos, conseguem, com esforço de Hércules, adquirir o domínio da língua e a erudição indispensáveis para ler e compreender os grandes clássicos da literatura. Raridade.
O comum dos mortais precisa de um adulto, de alguém já educado ou em processo mais avançado de educação, que lhe ajude no duro caminho entre os conhecimentos e capacidades atuais e os conhecimentos e capacidades possíveis e desejáveis.
Se, como é o caso brasileiro, os adultos socialmente admitidos para essa tarefa, os professores, não estão conseguindo mais completar a travessia, resta-nos aos pais pegarmos nas mãos de nossos filhos, nos encorajarmos a nós próprios, e, mesmo aos tropeços, guiá-los no rumo de uma melhor formação.
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